Uma multidão participou dos funerais do artesão Severino Vitalino, que contou com música e homenagens
Jaciara Fernandes
Severino Pereira dos Santos, Severino Vitalino, foi enterrado no Cemitério do Alto do Moura, na manhã da última terça-feira (8), ao som do pífano, da sanfona e da flauta e debaixo de muitos aplausos e emoção. O desejo do famoso artesão, que não queria uma despedida marcada por tristeza, foi respeitado pelos familiares. O velório ocorreu na casa onde morava, nas ladeiras do famoso bairro cultural, e ficou pequena para receber as centenas de amigos, admiradores e políticos, que precisaram se abrigar em duas tendas erguidas na calçada para receber os funerais do filho do Mestre Vitalino.
Ele morreu aos 78 anos, por volta das 6h da última segunda (7), depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória, no Hospital Mestre Vitalino, onde se encontrava internado desde o dia 28 de outubro do ano passado. A motivação para o internamento foi um infarto agudo do miocárdio, onde teve que se submeter a uma cirurgia de revascularização, no dia 8 de novembro.
Oscilando entre melhoras significativas e complicações, seu quadro clínico se agravou durante o Natal, quando os rins paralisaram e ele passou a realizar sessões diárias de hemodiálise. Com o surgimento dos pulmões fragilizados, Severino deu entrada em uma área isolada na UTI Coronariana do HMV, onde se encontrava em coma. A notícia do seu falecimento logo resultou numa comoção local e ganhou destaque nos principais veículos de comunicação de Pernambuco e até nacionais.
O velório tece início da tarde da segunda e, desde então, a visitação não parou. Todos queriam prestar uma última homenagem a Severino Vitalino, que deixou seu legado e uma significativa história na arte figurativa do Brasil. As celebrações dos ofícios sagrados foram feitas pelos padres Everaldo Fernandes e Luiz Antônio.
Para o historiador Walmiré Dimeron, a morte do artesão representa o fechamento de um ciclo. "A missão de Severino Vitalino era exatamente manter viva a memória do seu pai e a estética do maior mestre do barro, aquele que, na verdade, foi quem projetou Caruaru no cenário internacional. Em relação aos seus discípulos, Severino era o mais fiel", explicou.
A prefeita Raquel Lyra, ausente por motivos de viagem, decretou luto oficial de três dias pela partida do artesão. Ela enviou nota à imprensa e usou suas redes sociais lamentando a perda. A chefe do Executivo municipal esteve representada pelo vice-prefeito Rodrigo Pinheiro, que destacou a tristeza de todos. "Para nós, que somos caruaruenses, é um dia muito triste e, ao mesmo tempo, temos orgulho da família Vitalino. Seu Severino carregou com dignidade o legado deixado pelo pai", disse Rodrigo.
O vice-prefeito esteve acompanhado por muitos secretários municipais, a exemplo de Rubens Júnior, titular da pasta de Governo e presidente interino da Fundação de Cultura e Turismo, e de José Pereira, secretário extraordinário da Feira. Este último tem uma ligação muito próxima com os familiares do Mestre Vitalino. "Severino representou a vida inteira com muita dignidade a arte deixada pelo pai. Soube relatar o povo nordestino através da arte figurativa. Foi quem tomou conta da Casa-Museu e sempre recebeu os turistas com muito amor e orgulho em poder contar a história do seu pai. Isso é fantástico", frisou Pereira.
Para Socorro Vitalino, a mais velha dos 13 filhos de Severino, a dor é imensa, principalmente por ter perdido a mãe, Noemi Vitalino (dona Nina), há apenas um ano e meio. "Não é fácil perder as pessoas que mais amamos num curto espaço de tempo. Mas temos a consciência que eles nos deixaram o melhor deles. Agora só nos resta seguir em frente para manter viva a história iniciada pelo meu avô", comentou, emocionada.
Segundo ela, a Casa-Museu Mestre Vitalino seguirá sob os cuidados da família, onde lá já trabalham três filhos de Severino: Emanuela, Emanuel e Vitalino Pereira dos Santos Neto. Severino era o único filho que seguia os passos do pai.
De acordo com o artesão Cícero José essas presenças no espaço turístico é uma das garantias de que a história do barro perpetuará. "Tenho 61 anos e 50 dedicados à arte graças à boa vontade de Severino Vitalino, que teve o prazer de me ensinar o que sou hoje", disse, em reconhecimento ao homem de quem era compadre.
A também artesã Marliete Rodrigues, famosa por fabricar bonecos de barro em miniatura, também era comadre de Severino Vitalino e lamentou a lacuna deixada com a sua partida. "Ele era uma pessoa muito querida. Sabia amar todas as pessoas, tratava todo mundo com muito carinho. O Alto do Moura perdeu muito, mas estamos aqui para representar a nossa comunidade", pontuou Marliete, durante o cortejo do corpo até o cemitério, acompanhado por uma multidão e pela Banda de Pífanos 2 Irmãos, do Mestre João do Pife; e pelo grupo de Mazurca Pé Quente, formado por artesãos locais. O sepultamento foi marcado por mais emoção, com as homenagens dos artistas Mozart Vieira, sanfoneiro André Julião, José Carlos, Edjailson da Caruforró e Renilda Cardoso, que entoaram canções preferidas de Severino.
O ex-governador João Lyra Neto, que esteve entre os políticos, comentou a morte do artesão. "É uma grande perda e, ao mesmo tempo, é a consolidação do trabalho do Mestre Vitalino. Severino era uma referência da arte que herdou do pai", enalteceu o também ex-prefeito.
O deputado federal Wolney Queiroz lamentou a perda. "Cada vez que morre um membro dessa comunidade se enfraquece a cultura do maior centro da arte figurativa, que é o Alto do Moura", comentou. Já o ex-prefeito e deputado eleito José Queiroz falou sobre o que representa a morte do artesão para o Alto do Moura. "Ele era a verdadeira representatividade do Mestre Vitalino e, com a sua ausência, os seguidores precisam assimilar tudo aquilo que os dois representam para, só assim, darem continuidade à arte figurativa", comentou. Também esteve presente o deputado federal eleito Fernando Rodolfo.
Severino Vitalino era um dos seis filhos do Mestre Vitalino. Com a sua morte, permanecem vivos Amaro, de 84; Manuel, 83, e Maria José, 70.