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10/11/2018
Há 50 anos Caruaru elegia Anastácio Rodrigues prefeito
 

Anastácio foi candidato num momento de crise no Brasil, com Caruaru atravessando "uma turbulência arrasadora"Fernandino Neto, especial para o VANGUARDA

15 de novembro de 1968. Os caruaruenses vão às urnas para eleger seu novo prefeito e vereadores. É a primeira eleição municipal após o golpe militar que ocorrera quatro anos antes no Brasil. Pela primeira vez na história do município, será eleito um prefeito cuja candidatura nasceu da vontade popular: Anastácio Rodrigues, o tipógrafo de jornal que se tornou gestor da maior cidade do Interior pernambucano.

Vereador do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), liderando pequena oposição ao prefeito Drayton Nejaim, Anastácio disputou a eleição contra o também vereador José Antônio Liberato, da Arena, presidente da Câmara e candidato do prefeito. Pela sublegenda, da Arena, também entrou na disputa o ex-prefeito Neco Affonso.

O resultado oficial apontou 15.025 votos para Anastácio Rodrigues, contra 11.378 de José Liberato. Neco Affonso somou apenas 647 votos. Ao vencer o pleito com uma vantagem superior a 3,5 mil sufrágios, Anastácio quebrava, pela primeira vez, a invencibilidade política de Drayton Nejaim. A vitória, no entanto, não pôde ser comemorada, por ordem do governo ditatorial que comandava o país.

Anastácio foi candidato num momento de crise política e econômica no Brasil, com Caruaru atravessando "uma turbulência arrasadora", conforme recorda o jornalista José Torres. "Casas, lojas e terrenos eram vendidos a preço de banana, como se diz na gíria. Era a época dos famosos estrondos na cidade, que foi tomada por um pessimismo, com as placas de aluga-se e vende-se espalhadas por todo canto", rememora.

O cenário era desfavorável e a população estava desacreditada quanto aos rumos da cidade. A mocidade, com rebeldia e coragem, dizia que era preciso mudar, inclusive o processo político-administrativo. A cidade começava a despertar. A mobilização crescia, atingindo as lideranças que não admitiam o continuísmo, mas estavam indecisas em torno de um nome.

Foi assim que, pela primeira vez na história da cidade, uma candidatura nasceria da vontade popular. No final dos anos 60, em Caruaru, o movimento cultural vivia momentos de efervescência. Os encontros aconteciam na Casa da Poesia, a residência do poeta Lycio Neves, na Vila Kennedy, onde artistas, políticos e intelectuais se reuniam noite afora. Foi lá que Roberval Veloso, irmão do médico psiquiatra Rodolfo Veloso, gritou pela primeira vez o nome de Anastácio para prefeito, com sua voz rouca e de ator.

Adiante, Anastácio conquistou apoio do grupo Lyra, entretanto, ressalta que sua candidatura não foi planejada num gabinete. "Seu João e Fernando me apoiaram, mas a nossa candidatura nasceu do pessoal de teatro, do estudante. Como diretor de Educação e Cultura, prestigiei o teatro e eles viram que eu deveria ser o prefeito. Foi uma candidatura natural", defende. "O povo quis a minha candidatura", complementa.

A campanha de Anastácio Rodrigues foi baseada no trinômio "fé, esperança e otimismo", levando ao eleitorado uma mensagem de ânimo e levantando a estima do povo caruaruense. Nos comícios, a saudação de Anastácio era "amigos meus". Surgiram os slogans "Caruaru pra frente" e "Alegria! Alegria! Alegria!". Todos os que apostavam naquele novo projeto para Caruaru cantavam, ao som da zabumba: "Lá vem o dia da eleição, votar em Anastácio é a solução", composição de Onildo Almeida.

O verde era a cor oficial da campanha, representando a esperança em dias melhores. Os eleitores traziam ramos verdes para segurar durante os comícios. Pequenas bandeiras, com a imagem de Anastácio e sua filha Tatiana, confeccionadas com papel verde, eram distribuídas entre a militância. "Eu era estudante, na época, na campanha de Anastácio Rodrigues. Tinha o deputado José Liberato, que é o pai de Roberto Liberato, e ele tinha, na época, 60 e tantos por cento nas pesquisas. E nós começamos com 11%. Terminamos ganhando a eleição com mais de 20% de diferença. E Anastácio foi um dos prefeitos mais importantes da nossa história", relembra o ex-governador João Lyra Neto.

Cinquenta anos se passaram desde sua eleição vitoriosa e Anastácio continua popular. Em tempos de combate ostensivo à corrupção e descrédito na política e nas instituições, é lembrado pelo povo como "o prefeito mais honesto" que a cidade já teve. E tem mais: foi também o "prefeito amigo dos artistas e da cultura" e o responsável por uma grande quantidade de escolas erguidas no município até hoje. Sua trajetória é assim, cheia de marcos importantes. Talvez, por tudo isso, mesmo tendo tido um só mandato, Anastácio Rodrigues foi consagrado pela população como "o eterno prefeito de Caruaru".

Sua administração foi de 31 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973. Anastácio contou com apoio dos governadores Nilo Coelho e Eraldo Gueiros Leite para acabar com o problema secular da falta de água; transformou Caruaru em uma das cidades mais iluminadas do Nordeste; conquistou o serviço de saneamento público e implantou o Distrito Industrial do município, que são os pilares da infraestrutura de uma cidade. Fundador do Instituto Histórico de Caruaru, o ex-prefeito é hoje nome de creche no Bairro São João da Escócia e atua na preservação do passado e das tradições caruaruenses.

 

 
 
 
 
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