É costume, dentre alguns homens da família Pinheiro, "beber" o defunto após o sepultamento do ente querido. E assim cumprimos o ritual, após procurar, na noite da última segunda-feira, um bar aberto para o cumprimento do dever ao tio querido, Júlio Pinheiro da Silva, que partiu nos deixando vários ensinamentos ao longo dos seus 94 anos bem vividos, deixando poucos amigos, considerando-se que a velhice alongada nos deixa quase sozinhos de amigos, mas lá estavam o Bodocó e o Oscarlino, dentre alguns mais, relembrando histórias do Júlio caixeiro viajante da Coperbo: Companhia pernambucana de borracha. Pois é, já dominamos a indústria de borracha.
Na Churrascaria do Heleno, ali defronte ao INSS, servimo-nos de bebida e reservamos um copo de cerveja, uma cadeira vazia simbolizando ausência do tio muito amado. O bi sobrinho Bruno, colocou pedacinhos de picanha num pires ao lado do copo do falecido, o que provocou risos no primo Walter e olhar de repreensão do sobrinho/pastor Sidraque, "porque o ritual é coisa séria do qual não se deve zombar nem sorrir". Saulo, marido da belíssima prima Tâmara, observou a esquisitice da família, mas ressalvou que o amor se manifesta de várias maneiras.
As conversas, nessas ocasiões, giram totalmente em lembranças da história do falecido e seus ensinamentos sobre os descendentes, e houve concordância saudosa sobre o almoço de aniversário que Júlio promovia na última semana do ano em comemoração ao aniversário de vovó Mocinha, pessoa por quem ele sentia verdadeira adoração e respeito.
Após várias rodadas de bebidas, jovem sobrinho indagou se Júlio era "ferrolho", tamanho era o amor dele pela esposa Lurdinha. Era, não era, quem sabe… Colocamos em votação e o sim ganhou. Era. Ou foi. E essa foi a única mácula, abominável, sobre o caráter de Júlio e sua monogamia.
Despedimo-nos com abraços e ameaças de que "tu és o próximo", e rimos entre lágrimas de saudades do inesquecível tio que deixa muita saudade e exemplos de vida com dignidade, respeito e admiração.
Ao chegar a casa, Gustavo, tri sobrinho de Júlio, olhou para o pai, Paulo Henrique, e observou:
– Ô, pai, tu chega nessa cachaça toda depois da morte do tio… Imagina se ele tivesse nascido…???
Adeus, tio Júlio, te amaremos em cada lembrança tua. Mas parece que a terceira geração que você nos deixou vem mais debochada que as primárias.
Vê se pode?