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Carlos Pinheiro
 
09.03
Uísque com granizo

A gente estava quase se acostumando com seca de sete anos que assola o País de Caruaru e toda área metropolitana. Afinal, a desgraça se incorpora aos castigados com o passar do tempo, qual verruga no dedo daquele que aponta estrelas.

Inesperadamente, feito notícia de gravidez proibida, desembestou uma trovoada em parte da cidade que quase matou afogados os frequentadores do Amaro's Bar, ali no centro da capital, até que Ruizinho Rosal alertou que a água estava subindo e já atingia umbigos, mesmo estando todos na Calçada da Infâmia. Volumoso, decidiu ir boiando até a escadaria do Monte Bom Jesus, da donde continuaríamos bate-papo sabatino, ininterrupto até em tempestade; foi e levou os copos, fazendo mesa da barriga.

De dentro do bar emergiu, no glut, glut, glut, o professor Biu Xoxota com duas cervejas nas mãos, fazendo das garrafas, remos, nadando no vácuo deixado na água pelo Rui, personal funerário; Eliélcio, o Papa índias, relutou em abandonar o local de risco, mas, convencido foi nadando no rastro do professor, com uma só mão, pois a outra levava prato de arrumadinho de carne-de-sol, chegando à escadaria do Monte sequer molhada pela água da chuva. Naquele momento um raio atingiu a cruz na torre da igrejinha de Santa Luzia, seguido por trovão que rachou a estátua de Ludugero; Sátiro Maciel preferiu ir pilotando veículo aquático, pois rico é outra praia. Chegaram todos cansados ao meio do Monte.

Já devidamente acomodado, Ruizinho segurava os copos com granizo, só esperando o uísque. Perguntado que gelo era aquele, informou que caiu granizo em Caruaru e, providencial, guardou algumas pedras nos copos e as maiores, tamanho de bola salão, foram acondicionados em isopor que veio trazido por Iolanda, atleta em todas as modalidades.

O professor Biu esbravejava por falta de abridor que se esquecera de trazer. Daí se deu fé da presença de um jacaré que veio do Ipojuca e se recuperava do esforço numa pedra. Foi aí que Biu teve a ideia de pedir ao jacaré pra ele abrir as garrafas já que é portador de afiados dentes.

E bebemos cerveja, uísque com granizo e tira-gosto de arrumadinho. O que incomodou foi o papo mentiroso do Jacaré, falando mais do que Iolanda. Em concordância, todos lamentamos a ausência do Bloco da Mulher de Todos os Dias na prévia carnavalesca, dos Kannayas e do Boi Tira Teima de Hélio Vasconcelos.

No mais, foi só uma chuvinha com granizo que passou por Caruaru, mas a seca continua. Pela veracidade desta história consta gravura do artesão Manuel Florêncio, que não bebe e pode testemunhar a verdade, pois chegou depois, surfando num lápis de colorir.

Vê se pode?

 
 
 
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