Sim, é preciso continuar. Se no início dos anos 1900 queríamos o nosso espaço frente a uma sociedade patriarcal, sexista, excludente e machista, hoje ainda queremos a mesma coisa. É bem verdade que muito avançamos frente a conquistas de direitos, mas não a direitos suficientes, não a reconhecimento suficiente, ainda não temos o respeito suficiente. Vivemos em um país que está sempre no ranking infeliz dos que mais matam mulheres no mundo, em uma cultura que criminaliza a vítima de estupro, que julga muito natural que mulher seja objeto. Somos um país religioso, que o número de convertidos a religião, principalmente de matriz cristã evangélica, cresce a cada dia, no entanto o espaço público feminino continua em franco processo de opressão, em que números de feminicídio e agressões contra a mulher não param de crescer, inclusive nos meios de pessoas ditas religiosas.
Não, não podemos retroceder. Não podemos nos intimidar em uma época em que deturpam o que é ser feminista, em que vozes femininas se prestam a esse papel lastimável quando se afirmam que o dever a mulher é ser "feminina", fêmea, como animal meramente reprodutor e não ser que pensa, que conquista e não desiste de seus lutas. Precisamos ser feministas sim, mesmo ridicularizadas e chamadas de feminazis, pois de fato esse sufixo "NAZI" cabe muito mais a quem nos rotula como as pretensas donas da ditadura do politicamente correto porque queremos respeito, espaço, voto, poder político e econômico… Queremos dividir o espaço masculino.
Não, não odiamos os homens. Queremos igualdade. Muitas de nós são mulheres com filhos, casadas ou não, heterossexuais ou não, trabalhadores enfim. Uma grande quantidade sustenta as suas famílias e querem ganhar o mesmo que os homens ganham, dividir com eles as responsabilidades na criação dos filhos, as tarefas domésticas. Nada mais distante da realidade do que afirmar que somos o sexo frágil, somos o sexo forte, aquele que une e mantém a família. Estamos hoje vivenciando uma clara tentativa de retrocedermos em relação a conquista de direitos, estão nos dizendo que ora não merecemos o mesmo status que o homem, ora que já o conquistamos, pois, a Nova Previdência quer que tenhamos a mesma idade de aposentadoria sem os mesmos direitos e respeito social, estabelecendo-se um claro paradoxo retórico.
Somos poucas deputadas e senadoras, poucas prefeitas e só uma governadora, só tivemos uma mulher na presidência, o espaço público ainda não é do feminino. Somos poucas CEOs, somos maioria nas universidades, mas minoria nos mestrados e doutorados, somos minorias em postos de comando. Dizem que não queremos participar da política em um país que partido tem dono e região tem cacique eleitoral, mentido para nós sempre, por temerem a força do feminino. Nunca precisamos tanto da mulher, pois com toda essa sociedade patriarcal, o que de tão bom construímos que prescinde da nossa força, da nossa visão e da nossa capacidade de nunca permitimos que nos tolham o pensar? Homens e mulheres, somos complementares.