Que estamos vivendo em uma época de muitos riscos, quase ninguém contesta. Que o pensamento político está sendo vilmente atacado por loucos, fanáticos e pessoas mal-intencionadas, muita gente concorda. Que o Brasil tem uma educação permeada com um fundamentalismo marxista e que se transformaram em um centro de revenda de drogas, com professores e alunos consumidores e amigos de traficante, é algo tão absurdo que se imaginava que ninguém, em sã consciência acreditaria nisso, mas muita gente acredita…
Todo discurso de educação do novo governo está em combater a ideologia de gênero e a doutrinação marxistas nas escolas e universidades, mas um projeto mesmo de educação, algo sério e palpável ainda não foi apresentado. O que conhecemos é um ministro colombiano que diz que todo brasileiro é ladrão, apresentando um discurso cego, irresponsável e que demonstra uma terrível ignorância sobre a educação brasileira. Pensávamos, até há pouco tempo, que essa desinteligência já estava explícita, mas nos deparamos com uma situação ainda mais terrível: a intenção perversa para desmontar as universidades públicas.
Há muito tempo que se discute sobre a privatização do ensino superior no Brasil. Já entregamos grande parte de nossas instituições privadas ao capital estrangeiro, que investiram em infraestrutura barata, que nada melhora a qualidade educacional, e educação de massa, sem qualidade e com formação exclusiva para atender a demanda do mercado para cargos pequenos e médios. As lideranças das grandes empresas ou são formadas em universidades de ponta no exterior, ou nas privadas que não se venderam ao capital estrangeiro (Sim! Elas existem e são caríssimas!) e nas universidades públicas. É principalmente na universidade pública que a ciência é feita nesse país. Nós, pesquisadores, as vezes cambaleamos frente as dificuldades financeiras, mas não desistimos de formar jovens que produzam ciência e que impulsionem esse país para um progresso real, pois o Brasil tem condições de fazer ciência sim e de trazer os benefícios de suas pesquisas para a nossa população.
Com a política de cotas, essas universidades se tornaram mais democráticas e filhos dos pobres ingressaram em um nível de ensino que nos coloca com condições reais de desenvolver esse país. Nas universidades públicas estudamos marxismo sim, mas também liberalismo, economia de mercado, positivismo e toda sorte de teorias que nos formaram, desenvolvendo o pensamento crítico. É possível que para os fanáticos e para uma elite acéfala e gananciosa que pretende negligenciar o nosso futuro, as universidades não tenham um papel relevante, mas sem a universidade pública estagnaremos o saber, retrocederemos em pesquisas, enterraremos as extensões. Enfim, voltaremos a ser a colônia que tinha os portos fechados, importava tudo e não tinha o direito de desenvolver o seu saber.