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Rita de Cássia Souza Tabosa Freitas é advogada e professora de Filosofia.
Rita Freitas
 
31.08
Liberdade e vigilância

Desde a eleição de Donald Trump e o Brexit pulularam documentários que demonstram como as pessoas estão sendo monitoradas nas redes sociais. Através do Facebook foi possível estabelecer perfis que poderiam ser influenciados por notícias (inclusive falsas), que influenciaram nos votos dos eleitores. Os resultados desses dois fatos eleitorais poderiam ter resultados bastante diferentes se tais manipulações não houvessem ocorrido, mas o mais grave é que notícias fabricadas e manipuladas, que vão para receptores abertos a recebê-las, continuam sendo disparadas o tempo inteiro.

Pelas suas postagens, pelas suas buscas e compras, seu perfil vai sendo montado e vai a bancos de dados de empresas que trabalham com divulgação e manipulação de notícias. No Brasil, as últimas eleições presidenciais ocorreram nesses moldes e a pós-verdade foi amplamente utilizadas. A notícia fake e o discurso de pós-verdade surgem a partir de um fato real e distorcem completamente o ocorrido, sendo o destinatário dessa mensagem alguém que pensa de forma semelhante ou não reflete sobre o lido, divulgando como se fosse verdade, sem o devido cuidado sobre a fonte e a realidade do dito. A maior rede para a divulgação da notícia fake são os grupos de família, mas os grupos ideológicos também as recebem aos montes e não checam a verdade, simplesmente reproduzem. Nesse contexto, surgem os robôs para a manipulação e divulgação dessas notícias. Eles aparecem como se fossem uma pessoa, mas tem um padrão comportamental, nunca respondem, nem a mais terrível provocação e repetem a notícia falsa incessantemente. Atrás dos robôs estão as empresas que nos vigiam e manipulam.

Essa semana passei por uma experiência interessante, faço para de um grupo nacional que tem como tema central política e tem gente do Brasil inteiro e de várias ideologias. A fonte de informação mais presente nesse grupo era uma "pessoa" do Rio de Janeiro, chamada Priscyla, que trazia muitas notícias de um site chamado "opresidentebolsonaro". Não posso responsabilizar o presidente pelas informações falsas, mas o nome dele era amplamente usado. Priscyla postava várias vezes ao dia e repetia a postagem constantemente, fomentando muitas discussões de apoio. Comecei a perceber que havia um padrão e questionei no grupo se ela era uma pessoa ou um robô. Depois do questionamento, esse membro ativo que divulgava notícias mais que nunca comentava nada, sumiu e me deixou com a seguinte indagação: até que ponto nós estamos vivendo vigiados? Qual é o nosso real espaço de liberdade se nos monitoram o tempo inteiro? Estaríamos na ditadura virtual do monitoramento do pensado e falado?

 

 
 
 
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