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Dom Bernardino Marchió é o atual Bispo Diocesano de Caruaru.
Dom Bernardino Marchió
 
23.02
As lições de Brumadinho

O rompimento da barragem de rejeitos de mineiro em Brumadinho (MG), ocorrido no dia 25 de janeiro de 2019 foi uma tragédia que deixou mortes e dispersos, sem contar as consequências ambientais que podem chegar até o Rio São Francisco. Não sou um especialista neste assunto, mas gostaria de dialogar com os nossos leitores e lembrar os questionamentos da Igreja ao longo destes anos.

Vamos conhecer o que é Mineradora Vale.

A empresa foi construída em 1942, como uma empresa estatal, constituída com dinheiro público, com recursos do povo brasileiro. Cinquenta e cinco anos depois, em 1997, ela era a maior mineradora mundial de minério de ferro, possuída a maior frota de navios transportadores de grãos do mundo, duas ferrovias com nove mil quilômetros de extensão, com 16% da movimentação de cargas do país, constituída um complexo de 54 empresas e sua receita havia crescido de R$198 milhões por ano, no início dos anos 70, para R$ 5,5 bilhões em 1995, classificada como a primeira entre as empresas nacionais.

A VALE foi privatizada em 1997 no governo de Fernando Henrique Cardoso. Na época um dos Bispos que se ergueram contar esse crime foi Dom Luciano Mendes de Almeida, Arcebispo de Mariana – MG e Presidente da CNBB. Seus discursos ficaram famosos. Os argumentos que utilizou em defesa da Vale do Rio Doce como patrimônio público foram reproduzidos numa cartilha sobre a Vale e muito divulgado na campanha.

Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales – SP, Presidente da Comissão de Ação Social da CNBB, assim se expressou à época: "Pela própria natureza da empresa de exploração de recursos naturais e subsolos, a Vale deveria ter um caráter público inalienável. As riquezas do país precisam estar a serviço de um projeto de desenvolvimento nacional.

Por que estas posições contrarias da CNBB? Porque com a privatização se corre sempre o risco de colocar o livro acima de tudo?

E o Papa Francisco também se pronunciou sobre esta problemática: Dirigindo-se aos participantes de um encontro, em Roma, sobre as atividades mineradoras afirma: "o setor da mineração é chamado a fazer uma mudança radical de paradigma para melhorar a situação em muitos países". Pediu ainda que os governos, empresários, pesquisadores e trabalhadores contribuam para esta transformação: "Todas essas pessoas são chamadas a adotar um comportamento inspirado no fato de que nós formamos uma única família humana, ‘que tudo está inter-relacionado, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros."

"A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. As necessidades da pessoa humana exigem a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário – A tragédia da Mineradora VALE nos faz refletir e nos prepara para a Campanha da Fraternidade que iniciaremos dentro de poucas semanas.

 
 
 
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